quarta-feira, 25 de julho de 2007

O CENTRO DA NOSSA

ESPERANÇA

Este Artigo foi escrito pelo professor: ALBERTO RONALD TIMM

Publicado na Revista Adventista de Setembro de 1987.

Aquela sexta feira revestia-se de profunda tristeza para nossa família. Após quatro dias em estado de goma, minha irmã finalmente descasara. Ao chegarmos a sua casa, antes dos serviços fúnebres, encontramos Henrique, seu filhinho de três anos e meio de idade, brincando inocentemente, como se não entendesse a situação. Não muito depois, ele se aproximou de mim e perguntou: ”Tio Ronald, sabe que a mamãe morreu?” Surpreso com a pergunta, indaguei-lhe: “É mesmo?... E onde a mamãe está? _” A mamãe está lá na igreja! Foi a resposta. _ “E o que vai acontecer agora?”, voltei a perguntar-lhe. Sua resposta foi: “A mamãe vai ficar lá no cemitério da igreja; mas quando Jesus voltar, ela vai ressuscitar!”

Suas palavras certamente refletiam a explicação que anteriormente lhe fora dada a respeito do que estava acontecendo; mas, mesmo assim, elas eram carregadas de uma profunda esperança: “quando Jesus voltar!”

Em realidade, essa tem sido a esperança dos cristãos através dos séculos. Ela é um dos temas predominantes do Novo Testamento, e sua mensagem tem sido cantada pela Igreja Cristã. Muitos têm nela orado fervorosamente por sua concretização. Mas qual é o verdadeiro sentido dessa esperança? Sob que aspecto deve repousar nossa ênfase ao considerarmos esse tema? O centro de nossa esperança está nos sinais que anunciam sua breve concretização, no tempo em que o evento há de ocorrer, ou naquele que em breve há de voltar?

SINAIS: OBJETO DE NOSSA ESPERANÇA?

Ante o pedidos dos discípulos (Mateus 24:3) - E, estando assentado no Monte das Oliveiras, chegaram-se a ele os seus discípulos em particular, dizendo: Dizê-nos, quando serão essas coisas, e que sinal haverá da tua vinda e do fim do mundo? Jesus passou a enumerar um grande número de sinais que haviam de anteceder Sua segunda vinda. Esses sinais podem ser classificados em (1) “sinais gerais”, que são fatos que sempre ocorreram, mas que, devido a sua intensificação se tornaram em indícios de Sua breve volta; e (2) “sinais específicos”, que ocorrem especificamente em relação com esse evento.

Se observarmos o atual contexto em que vivemos, distinguiremos um extraordinário cumprimento das palavras de Cristo. Esse fato por si só já é suficiente para fascinar qualquer estudante sincero das profecias bíblicas. Mas a pergunta que surge é: Deveremos depositar a nossa esperança nesses sinais?

É certo que os sinais da breve volta de Cristo são deveras significativos; caso contrario, o Salvador jamais os teria mencionado. Mas ao mesmo tempo em que os enumerou, Ele também advertiu: (Lucas 21:28) - Ora, quando estas coisas começarem a acontecer, olhai para cima e levantai as vossas cabeças, porque a vossa redenção está próxima.

È esse “erguei as vossas cabeças” que faz a diferença entre (Lucas 21:26) - Homens desmaiando de terror, na expectação das coisas que sobrevirão ao mundo; porquanto as virtudes do céu serão abaladas. E os que exultarão, em face dos últimos acontecimentos. Isso torna evidente que os sinais em si não são o objeto de nossa esperança, pois somos advertidos a olhar para cima e aguardar do alto a concretização de nossa redenção.

Como a expectativa na parábola da figueira (Mateus 24:32) - Aprendei, pois, esta parábola da figueira: Quando já os seus ramos se tornam tenros e brotam folhas, sabeis que está próximo o verão. (Mateus 24:33) - Igualmente, quando virdes todas estas coisas, sabei que ele está próximo, às portas. Não está nos ramos que se renovam, nem nas folhas que brotam, mas no verão que se aproxima, assim também a esperança do cristão não se fundamenta no cumprimento dos sinais mencionados por Cristo, mas na realidade que eles apontam: a breve volta de Cristo. Portanto, se por um lado encaramos os cumprimentos naturais, eles deixarão de ser sinais para nós. Se, por outro lado, fixarmos neles nossa esperança, eles assumirão para nós um caráter idolátrico, em substituição a Cristo que é (Colossenses 1:27) - Aos quais Deus quis fazer conhecer quais são as riquezas da glória deste mistério entre os gentios, que é Cristo em vós, esperança da glória;

TEMPO: OBJETO DE NOSSA ESPERANÇA?

Em diálogo com alguém que alegava ter recebido o dom de profético para advertir a Igreja em nossos dias, perguntei-lhe a respeito de qual seria a necessidade de uma nova manifestação desse dom em geral para a Igreja hoje. Sua resposta foi que o mesmo Deus que chamara Ellen G.White para mencionar os eventos que haviam de correr no fim dos tempos, agora o estava incumbindo de apresentar à Igreja o tempo especifico em que os eventos irão ocorrer.

Talvez esse seja um exemplo extremo dentro de um grupo representativo que, embora não clame para si o dom profético, julga possuir luz suficiente para advertir a Igreja da brevidade da volta de Cristo, enfatizando o tempo em que os eventos finais ocorrerão. Alguns chegam a argumentar que as palavras de Cristo em (Mateus 24:36) - Mas daquele dia e hora ninguém sabe, nem os anjos do céu, mas unicamente meu Pai. Nos impedem apenas de saber o “dia e hora”, mas que o mês ou pelo menos o ano de Sua volta é possível ser determinado. Os argumentos mais comuns baseiam-se em cálculos matemáticos elaborados sob a premissa de que em “determinado ano” terá fim o período dos “6.000 anos” e, conseqüentemente, nesse mesmo ano Jesus voltará.

Em realidade, a curiosidade humana em relação com o tempo em que à volta de Cristo há de ocorrer não se limita aos nossos dias. Apesar de Cristo ter afirmado em Seu sermão profético que (Mateus 24:36) - Mas daquele dia e hora ninguém sabe, nem os anjos do céu, mas unicamente meu Pai. Pouco antes se Sua ascensão os discípulos voltaram a indagar-Lhe: (Atos 1:6) - Aqueles, pois, que se haviam reunido perguntaram-lhe, dizendo: Senhor, restaurarás tu neste tempo o reino a Israel?

Diante da insistência dos discípulos, Cristo claramente afirmou: (Atos 1:7) - E disse-lhes: Não vos pertence saber os tempos ou as estações que o Pai estabeleceu pelo seu próprio poder. Essas palavras esclarecem o fato de que quaisquer tentativas por definir o tempo específico ou época em que os eventos finais hão de ocorrer é tentar penetrar naquilo que Deus reservou para Si, e que não é de Sua vontade que conheçamos (Deuteronômio 29:29) - As coisas encobertas pertencem ao SENHOR nosso Deus, porém as reveladas nos pertencem a nós e a nossos filhos para sempre, para que cumpramos todas as palavras desta lei.

Comentando a respeito desse assunto, a Sra. White declara: “Jesus não veio assombrar os homens com alguns grandes pronunciamentos de um tempo especial em que havia de ocorrer algum grande acontecimento, mas veio instruir e salvar os perdidos. Não veio despertar e satisfazer curiosidade; pois sabia que isto não faria senão aumentar o desejo por coisas curiosas e maravilhosas”.“Não devemos viver em excitação acerca de tempo. Não nos devemos absorver com especulações que Deus não revelou. Jesus disse a Seus discípulos ‘vigiai’, mas não para um tempo definido... Não sereis capazes de dizer que Ele virá dentro de um, dois, ou cinco anos, nem deveis retardar Sua vinda, declarando que não será por dez, ou vinte anos”.

“Quanto mais freqüentemente se marcar um tampo definido para o segundo advento, e mais amplamente for ele ensinado, tanto mais se satisfazem os propósitos de Satanás. Depois que se passa o tempo, ele provoca o ridículo e o desdém aos seus defensores, lançando assim o opróbrio sobre o grande movimento adventista... Os que persistem neste erro, fixarão finalmente uma data para a vinda de Cristo num futuro demasiado longínquo. Serão levados, assim, a descansar em falsa segurança, e muitos se desenganarão tarde demais”.

“Tenho sido repetidamente advertida com referencia a marcar tempo. Nunca mais haverá para o povo de Deus uma mensagem baseada em tempo”.O tempo não tem sido um teste desde 1844, e nunca mais o será.”“ Em vez de viver na expectativa de algum tempo especial de excitação, cumpre-nos aproveitar sabiamente as oportunidades presentes, fazendo o que deve ser feito para que almas sejam salvas. Em lugar de exaurir as energias de nossa mente em especulações quanto aos tempos e as estações que o Senhor estabeleceu por Seu próprio poder, e reteve dos homens, devemos rendermos nós mesmos ao domínio do Espírito Santo, cumprir os deveres atuais, dar o pão da vida, não adulterado com opiniões humanas, a almas que estão perecendo pela verdade.”“.

“O Senhor me tem mostrado que a mensagem do terceiro anjo deve ir, e ser proclamada aos dispersos filhos do Senhor. Mas não deve estar na dependência do tempo. Vi que alguns estavam conseguindo um falso excitamento, despertado por pregarem tempo; mas a mensagem do terceiro anjo é mais forte do que o tempo possa ser. Vi que esta mensagem pode sustentar o seu próprio fundamento e não necessita de tempo para fortalecê-la; e que ela irá em grande poder e fará a sua obra, e será abreviada em justiça”.

CRISTO: O OBJETIVO DE NOSSA ESPERANÇA

Ser um “adventista” não significa desconhecer o tempo e o contexto em que vivemos, para apenas acariciar sonhos e imaginações utópicas em relação com o futuro. Um genuíno adventista é alguém que aceitou a Cristo como Salvador pessoal e como Senhor de sua vida, cujo coração foi a tal ponto enternecido pelo grande amor de Cristo, que sua viva ligação com Ele aumenta cada vez mais seu anseio de vê-Lo face a face.

A gloriosa promessa: (Apocalipse 22:4) - E verão o seu rosto, e nas suas testas estará o seu nome. Não permite que centralizemos nossa esperança no tempo e nos sinais que ocorrem ao nosso redor. O tempo deixará de existir: (Mateus 28:20) - Ensinando-os a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos. Amém. E a presente ordem de coisas passará: (Apocalipse 21:5) - E o que estava assentado sobre o trono disse: Eis que faço novas todas as coisas. E disse-me: Escreve; porque estas palavras são verdadeiras e fiéis. Quando aqueles que depositaram sua esperança em Cristo hão de resplandecer: (Daniel 12:3) - Os que forem sábios, pois, resplandecerão como o fulgor do firmamento; e os que a muitos ensinam a justiça, como as estrelas sempre e eternamente.

È com essa esperança em mente que o apostolo João escreveu: (I João 3:2) - Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não é manifestado o que havemos de ser. Mas sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele; porque assim como é o veremos. É o resultado natural dessa ênfase em Cristo será a purificação do próprio coração: (I João 3:3) - E qualquer que nele tem esta esperança purifica-se a si mesmo, como também ele é puro. E a dedicação da vida à proclamação do Evangelho ao mundo. (Mateus 24:14) - E este evangelho do reino será pregado em todo o mundo, em testemunho a todas as nações, e então virá o fim.

Aos primeiros discípulos Jesus desviou a atenção e a preocupação por “conhecer tempos ou épocas”, para a necessidade de receber a unção do Espírito Santo a fim de testemunharem com poder no cumprimento da missão: (Atos 1:7) - E disse-lhes: Não vos pertence saber os tempos ou as estações que o Pai estabeleceu pelo seu próprio poder. (Atos 1:8) - Mas recebereis a virtude do Espírito Santo, que há de vir sobre vós; e ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria, e até aos confins da terra. Por semelhante modo, o mundo será convencido, não por constatar a precisão matemática em que formulamos os cálculos em relação com acontecimentos finais da historia do mundo, mas por sentir que realmente estivemos com Jesus (Atos 4:13) - Então eles, vendo a ousadia de Pedro e João, e informados de que eram homens sem letras e indoutos, maravilharam-se e reconheceram que eles haviam estado com Jesus. (II Corintios 5:14) - Porque o amor de Cristo nos constrange, julgando nós assim: que, se um morreu por todos, logo todos morreram.

CONSIDERAÇÕES ADICIONAIS

Emil Bruner afirma: “O que o oxigênio é para os pulmões, a esperança é para o sentido da vida humana. Remova-se o oxigênio, e a morte há de ocorrer por asfixia; remova-se a esperança, e a humanidade será constrangida por falta de fôlego. O desespero sobrevém, paralisando os poderes intelectuais e espirituais por um sentimento de uma existência destituída de sentido e propósito. Como o destino do organismo humano depende do suprimento de oxigênio, assim o destino da humanidade depende de seu suprimento de esperança”.

A ESPERANÇA DÁ SENTIDO À VIDA HUMANA.

O verdadeiro cristão sabe que essa esperança transcende o tempo e o espaço, e centraliza-se na segunda vinda de Cristo: (I Corintios 15:19) - Se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens. E Edward Gibbon identifica a fé no iminente retorno de Cristo como um dos cinco fatores mais importantes do progresso do cristianismo, afirmando que, enquanto essa esperança foi mantida, produziu ‘os mais salutares efeitos sobre a fé e a prática dos cristãos.”“.

Certa ocasião, ouvi o Pastor Ernest Steed, da Associação Geral, contar um episodio significativo que ele presenciou ao visitar uma das ilhas do Sul do Pacifico. Ao anoitecer, ele acompanhou os nativos ao alojamento em que pernoitavam. Era uma construção rudimentar, na qual o primeiro andar, que ficava junto ao solo, servia de abrigo aos animais domésticos; o andar seguinte era destinado aos homens da tribo; e um terceiro andar era reservado as mulheres. De madrugada, quando ainda escuro, todos os nativos da tribo deixaram o alojamento e foram até a praia na direção em que nascia o sol, retornando depois de algum tempo. Curioso ante o incidente, o Pastor Steed indagou-lhes a respeito do que foram fazer. Os nativos responderam que, quando o missionário adventista lhes havia pregado o Evangelho, ele afirmara que Jesus haveria de vir do Oriente: (Mateus 24:27) - Porque, assim como o relâmpago sai do oriente e se mostra até ao ocidente, assim será também a vinda do Filho do homem. Assim, cada manhã, eles iam até a praia para ver se Jesus já estava voltando!

Tal costume pode parecer o resultado de uma fé ingênua, aos olhos de uma mente racionalista. Mas é uma demonstração prática de fé na iminente volta de Cristo, por um grupo de nativos que aceitou o Evangelho.

Na verdade, não somos instados a estabelecer datas para a volta de Cristo, mas a cremos na iminência desse evento. Essa iminência cumprir-se-á para cada um de nós individualmente quando Jesus voltar em gloria e majestade nas nuvens do céu, ou quando formos chamados ao descanso. O certo é que a cada um de nós individualmente Cristo declara: (Apocalipse 22:20) - Aquele que testifica estas coisas diz: Certamente cedo venho. Amém. Ora vem, Senhor Jesus.

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