sábado, 28 de julho de 2007

Porque

Deus

Se Fez

Homem

Marcos De Benedicto

Redutor da Casa Publicadora Brasileira.

Talvez você ache que aceitar a Cristo como Salvador pes­soal seja mais importante do que saber coisas a respeito de Sua pessoa e obra. Tudo bem; não contesto esse ponto de vista. Mas você concordará que a amizade entre duas pessoas é afetada por aquilo que uma conhece a respeito da outra.

Por isso, quanto mais você conhecer sobre Jesus, mais motivado será a relacionar-se com Ele. O conhecimento sobre Ele leva ao relacionamento com Ele.

Certo, a prática é mais importante do que a teoria. Mas sempre é bom lembrar — nestes tempos de pobreza de raciocínio — que uma boa teoria ainda é um dos melhores meios para se chegar à prática.

Nesse caso, não é perda de tempo relembrar ou aprender os motivos da encarnação de Jesus. O objetivo deste artigo não é apresentar algo novo e original. Sem especular, enumerei — entre outros possíveis e com base no que diz a Bíblia — oito motivos e propósitos da vinda do Deus-Filho ao mundo.

1. Para salvar o homem; ser seu substituto.

Foram seres humanos, e não divinos, que fracassaram no Éden. Portanto, somente um ser humano e divino ao mesmo tampo poderia dar uma segunda oportunidade à raça caída. Assim, Deus-Filho Se fez homem, para morrer por nossos pecados (João 3:16) - Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Como Deus, Ele não poderia morrer. Deus não morre. Foi Sua natureza humana que morreu. (Essa afirmação não tem a intenção de dividir a obra vicária de Cristo. Porque, se por um lado foi a natureza humana que morreu, foi a divina que Lhe possibilitou o retorno à vida, por outro. A obra realizada foi a do Homem-Deus, obra da Pessoa de Cristo. Lutero temia essa divisão.) Anselmo — arcebispo de Canterbury. Inglaterra, no final do século XI —, em sua obra Por Que Deus Se Fez Homem, expôs o propósito da encarnação de uma maneira interessante. Seu argumento se baseia no princípio legal da época, de acordo com o qual "a importância da ofensa depende do ofendido, e a de uma honra depende de quem honra".

Aplicando o princípio a nossas relações com Deus, conclui-se que:

(l) o pecado é infinito, pois foi cometido contra Deus;

(2) qualquer pagamento ou satisfação que o ser humano possa oferecer a Deus é limitado, pois sua importância será medida com base em nossa dignidade, que é infinitamente inferior à de Deus. Além disso, não temos meio algum para pagar a Deus o que Lhe devemos, pois qualquer bem que possamos fazer não é mais do que nosso dever, e por isso a dívida passada nunca será cancelada.

É necessário, pois, oferecer um pagamento infinito a Deus; e, ao mesmo tempo, esse pagamento tem de ser feito por um ser humano, pois fomos nós que pecamos. Portanto, deve haver um ser humano infinito — o que equivale a dizer divino. É por isso que Deus Se fez homem em Jesus Cristo, que ofereceu uma satisfação infinita por nosso pecado.

2. Para revelar a Deu e vindicar Seu caráter justo e amoroso.

São João disse: "Ninguém nunca viu a Deus. Somente o Filho único, que é o mesmo que Deus, e está perto do Pai, é que nos mostrou quem é Deus" (S. João l:18, BLff) (João 1:18) - Deus nunca foi visto por alguém. O Filho unigênito, que está no seio do Pai, esse o revelou. Mostrar o que e como é Deus foi um grande propósito na encarnação do Filho. Ele revelou o caráter do Pai através das Suas obras de amor entre os homens, na Palestina.

Você já leu (e ouviu dizer) muitas vezes, que Satanás tentou provar que Deus era injusto e Sua lei, defeituosa. Jesus veio para demonstrar aos habitantes do Céu e ao pessoal de outros mundos que o governo de Deus é justo e que Sua lei é perfeita. Salvar o homem era importante, mas resgatar o nome de Deus das acusações do diabo também.

3. Para ser nosso exemplo.

Muitos pregadores dizem que Somente Cristo é nosso exemplo e modelo. Isso é verdade. Ele serve de exemplo porque não pecou, e venceu como precisamos vencer. Tudo que realizou foi pelo relacionamento com o Pai. Ele era dependente DELE, tanto é que foi "ungido com o Espírito Santo" (Atos 10:38) - Como Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e com virtude; o qual andou fazendo bem, e curando a todos os oprimidos do diabo, porque Deus era com ele.Venceu pelo poder da Palavra, e era "pela fé e a oração" que Ele realizava Seus milagres.

4. Para derrotar a Satanás em seu campo.

Você sabe, a grande "briga" começou no Céu, mas o motivo dela foi o fato de Deus não ter convidado Lúcifer para participar do planejamento da criação da Terra. Quando o diabo conseguiu invadir este planeta, alegou que o mundo agora era seu. Jesus veio "brigar" com ele no seu campo, como homem, para ele não arrumar desculpas. (Já notou que as equipes esportivas gostam de jogar em casa?).

Por essa razão, a Igreja Primitiva considerava Cristo sobretudo como vencedor do demônio e dos seus poderes. Já na Idade Média, a ênfase da Igreja quanto aos motivos da encarnação foi mudando de libertação da humanidade do jugo da escravidão para Jesus como a vítima de Deus. Pensava-se em Jesus como pagamento pêlos pecados humanos. "Sua tarefa consistia em aplacar a honra de um Deus ofendido. No culto, a ênfase recaiu sobre a crucificação mais do que sobre a ressurreição", diz o historiador Justo L. Gonzalez, em Uma História Ilustrada do Cristianismo (Edições Vida Nova, São Paulo, 1981), vol. 4, pág. 132.

Devemos, porém, abandonar ou rejeitar esse conceito. Deus não é um monstro irado que precisa de sangue para Se acalmar. Cristo não é Sua vítima, porque o próprio Pai planejou com o Filho a missão-resgate. E, além disso, o sofrimento do Filho é o sofrimento do próprio Pai. Em Cristo, Deus estava punindo a Si mesmo pelo pecado do homem. (Não vai aqui nenhuma insinuação de teopassianismo — doutrina que ensina que Deus, e não o Verbo Encarnado, sofreu e morreu na cruz.).

5. Para ser nosso Grande Sacerdote.

Somente um ser humano poderia ser o mediador entre o homem e Deus. O autor de Hebreus, numa de suas exortações, conclui que podemos chegar tranqüilos perto do trono de Deus, porque temos um Grande Sacerdote que tem compaixão de nós (Hebreus 4:15) - Porque não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas; porém, um que, como nós, em tudo foi tentado, mas sem pecado. (Hebreus 4:16) - Cheguemos, pois, com confiança ao trono da graça, para que possamos alcançar misericórdia e achar graça, a fim de sermos ajudados em tempo oportuno. As razões principais para essa aproximação confiante são os fatos de Jesus ser um homem e ter sido tentado em tudo como nós, com a diferença de que Ele não pecou.

6. Para ser nosso juiz.

Embora não prestemos muita atenção a este ponto, ele é verdadeiro e importante. Deus conhece tudo, e poderia julgar nossas ações e motivos sem possibilidade de erros. Os anjos também poderiam fazer o trabalho com perfeição. Mas Jesus resolveu calçar nossos sapatos, enfrentar a poeira e "comer o pão que o diabo amassou", para, só depois disso, levar uns para o Céu e mandar outros para o inferno. Cá entre nós, essa altitude é mais democrática, não é? Traz mais segurança e tranqüilidade. Ele conhece na prática o que é sofrer.

7. Para ser o novo Chefe da raça humana.

Ao pecar, Adão perdeu sua posição de chefe da raça humana. Jesus veio, também, para assumir o seu lugar (e isso não quer dizer que Jesus assumiu Sua natureza de pecado). Jesus além de morrer por nós, deu-Se para nós. Uniu-Se a nós e tornou-Se o nosso novo representante, no lugar de Adão. O apóstolo Paulo chama-O de "o segundo Adão".

8. Para nos tornar participantes da natureza divina.

A Bíblia diz que todos os seres humanos são maus desde que nascem; por natureza, somos inimigos de Deus e escravos do diabo. Jesus veio reverter essa situação. Com Seu poder, Ele anula as desvantagens que temos em relação ao que Adão era antes de pecar. Mais do que isso: Ele nos torna amigos de Deus, participantes da natureza divina. Jesus trouxe a possibilidade de regeneração.


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